O estigma do TOC: entendendo o julgamento social e o impacto psicológico
- Cristiane Bortoncello
- 22 de mai.
- 2 min de leitura
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), como já expliquei algumas vezes por aqui, é uma condição que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo e se caracteriza por obsessões ou compulsões. As obsessões podem envolver pensamentos intrusivos sobre diversos temas, como por exemplo agressão, violência, desastres naturais, religião, moralidade, sexo, contaminação e até mesmo simetria e organização. Já as compulsões são atos repetitivos realizados com o objetivo de reduzir a ansiedade gerada por esses pensamentos, como por exemplo limpar, lavar as mãos ou verificar objetos repetidamente.
A estigmatização do TOC acontece quando a sociedade julga e rotula as pessoas com esse transtorno com base em comportamentos que não compreendem. Gestos como verificar várias vezes se a porta está trancada ou lavar as mãos excessivamente podem ser vistos como “exagero” ou “mania”, quando na verdade, são mecanismos de enfrentamento de uma ansiedade intensa. A falta de compreensão sobre o TOC leva a julgamentos precipitados, colocando as pessoas que sofrem com o transtorno em uma situação de discriminação social.
O impacto psicológico
Esse estigma não só agrava o sofrimento das pessoas com TOC, mas também pode intensificar o quadro psicopatológico, tornando o transtorno mais difícil de ser tratado. De acordo com pesquisas de Piner e Kahile (1984), as pessoas com transtornos mentais enfrentam mais discriminação do que aquelas com doenças físicas. O preconceito em relação aos transtornos mentais, como o TOC, pode levar à internalização do estigma. Isso significa que a pessoa passa a esconder seus sintomas por vergonha ou medo de ser julgada, o que é conhecido como estigma internalizado.
A internalização do estigma gera sentimentos negativos de sofrimento e vergonha. A pessoa com TOC pode começar a se ver como "diferente" ou "errada" por causa de seu transtorno, levando ao desenvolvimento de um ciclo de autoesteriotipação, autopreconceito e autodiscriminação (Corrigan e Watson, 2002). Esse sofrimento emocional não só impacta a saúde mental da pessoa, mas pode até mesmo contribuir para o desenvolvimento de quadros como a depressão, tornando o TOC mais difícil de ser tratado.
A necessidade de combater o estigma e buscar tratamento
O tratamento do TOC envolve mais do que apenas lidar com as obsessões e compulsões. Ele precisa considerar também o impacto psicológico do estigma. As pessoas que sofrem com o TOC necessitam de apoio para superar a vergonha e o isolamento causados pela discriminação social. O tratamento deve, portanto, abordar tanto os sintomas do transtorno quanto as questões emocionais relacionadas ao preconceito, ajudando o paciente a se sentir compreendido e aceito.
O tratamento do TOC deve ser completo, levando em conta tanto os sintomas quanto os aspectos emocionais e sociais da pessoa. A conscientização sobre o TOC e o combate ao estigma são essenciais para oferecer um caminho mais humano e eficaz para quem convive com essa condição.
Se você ou alguém que você conhece sofre com TOC, lembre-se: é importante buscar ajuda profissional, não apenas para tratar os sintomas, mas também para lidar com o sofrimento emocional causado pelo estigma. A compreensão e o apoio podem fazer toda a diferença no processo de recuperação e qualidade de vida.
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